09 janeiro 2008

Relações Públicas, esta incompreendida? Análise da percepção dos calouros do curso de Relações Públicas

Resumo:
Discussão permanente nos encontros acadêmicos e profissionais, a falta de uma definição clara e objetiva das Relações Públicas tem causado, até hoje prejuízos para a identidade da profissão junto a empresários e a sociedade em geral. Diante deste impasse, muitos são os apontados como os ‘culpados’ por esta situação como as entidades da categoria, a academia, assim como os profissionais que passaram pelos cursos universitários existentes no país. A pesquisa aqui apresentada pretende mostrar que a percepção dos calouros do curso de Relações Públicas, em sua maioria, é deturpada e estereotipada, fruto da desinformação.

Palavras-chave: Percepção, Relações Públicas, conceito, estereótipo, entidades da categoria


Sendo as Relações Públicas uma profissão ainda bastante ‘nebulosa’ em termos de sua definição e de uso prático na sociedade, a atividade tem sofrido, ao longo dos anos, as conseqüências da falta de um conceito consolidado. Se, por um lado a criação da legislação, em 1967 contribuiu para formalizar a atividade no Brasil, por outro trouxe prejuízos ao restringir a prática das Relações Públicas aos profissionais que possuem o registro profissional. Enquanto os jornalistas orgulham-se e defendem o registro profissional, como forma de ‘delimitar’ seu território profissional, os relações-públicas descartam e não reconhecem a legitimidade do mesmo, o que é reforçado pelas empresas não exigem a filiação ao Sistema CONFERP, como requisito para a contratação.

A percepção equivocada dos jornalistas a respeito das Relações Públicas é confirmada pela pesquisa realizada por Duarte e Duarte (2002) com 262 profissionais de imprensa. Os resultados demonstraram que para o jornalista o profissional de relações públicas é um ilustre desconhecido. Lopes e Vieira (2004, p. 24) apontam a suposta distinção quando comentam que “fica nítida a preocupação dos jornalistas em diferenciar o papel dos dois profissionais, enfatizando-se que jornalistas cuidam da informação e os relações-públicas cuidam dos relacionamentos”. Esta tentativa de distinção é frágil, uma vez que não há possibilidade de separar a informação da construção e manutenção de relacionamentos da empresa com seus públicos de interesse, pois o processo de Relações Públicas está calcado na informação, aqui entendida como a ‘matéria-prima’ da referida atividade, conceito cunhado por Simões (1993).

Após quase 40 anos de ter sido instituído o primeiro curso universitário de Relações Públicas no Brasil, na ECA/USP e, de contarmos em 2006 com aproximadamente 90 cursos em todo o país (CONRERP SP/PR, 2006), a atividade não conseguiu sua legitimidade como as demais áreas da comunicação, tanto entre os empresários como na sociedade em geral.

Apesar de o Parlamento Nacional de Relações Públicas, ter sido um movimento de reflexão da legislação criada em 1967 sob o olhar do século XXI, as alterações propostas no documento final do referido movimento, ainda encontram-se tramitando nas diferentes instâncias da Câmara e Senado Federal. Essa lentidão da burocracia governamental tem acelerado um clima de insatisfação por parte dos profissionais de Relações Públicas, assim como daqueles que estão na direção do Sistema Conferp. Urge a necessidade de garantir uma identidade das Relações Públicas que possa ser compreendida pelas organizações e sociedade em geral, mas para que essa mudança ocorra será preciso agir com rapidez para não perder, talvez a nossa última oportunidade.

Diante deste cenário, foi desenvolvida uma pesquisa junto aos calouros do curso de Relações Públicas com o objetivo de conhecer suas percepções sobre a profissão e sua aplicabilidade no mercado de trabalho. Foram pesquisados 104 alunos que ingressaram no curso de Relações Públicas da ECA/USP nos anos de 2005 e 2006. Os resultados demonstram que a percepção dos alunos sobre a atividade profissional de Relações Públicas é inconsistente e distorcida e que sua aplicabilidade está restrita a atividades técnicas e operativas.

Acreditamos que a percepção dos alunos está diretamente relacionada com a situação atual da profissão na sociedade, isto é, a desinformação faz com que as pessoas tenham uma definição distorcida da real função do profissional. A escassa informação sobre a atividade de Relações Públicas está em perfeita sintonia com os motivos que levaram os alunos pesquisados a escolherem o curso. Ao contrário da visão distorcida dos alunos e sociedade, no campo acadêmico os cursos têm se preocupado em estar constantemente atualizados, tanto com relação à matriz curricular como no desenvolvimento de práticas complementares que venham a dar maior vivência aos estudantes sobre a prática profissional de Relações Públicas. Estudo desenvolvido por Ferrari et al. (2003) aponta que as coordenações de curso estão permanentemente revendo seus conteúdos e práticas com o objetivo de reforçar a verdadeira função dos profissionais de Relações Públicas.

Se por um lado os estudantes, seus familiares e a sociedade em geral não têm uma noção correta da função da atividade de Relações Públicas no mercado e por outro, a academia está cumprindo sua função que é formar profissionais que atendam às demandas do mercado e da sociedade, não estaria faltando a participação das entidades da categoria para apoiar a academia que está fazendo a sua parte?


FERRARI, Maria Aparecida. Relações Públicas, esta incompreendida? Análise da percepção dos calouros do curso de Relações Públicas. In: UNIrevista - Vol. 1, n° 3, julho 2006. Disponível em: http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_Ferrari.PDF. Acesso em Janeiro de 2008.


Clique aqui para ver a íntegra do texto.

Nenhum comentário: